Seres poéticos

Catando a poesia com pá de lixo

Arrumamos rimas improváveis.

Imagens sonhadas e riscadas à giz.

Pontarias que erram sempre por um triz.

E acertam fatalmente num lirismo vagabundo.

Catando a poeira cósmica na calçada.

Perdida entre os passos errantes...

Entre milhões de caminhos dentre as galáxias.

No labirinto repleto de deuses e diabos...

Entre anjos e anciãos...

Catando a poesia e peneirando-a

Em busca de suas gotículas mágicas

Como as do orvalho,

as das lágrimas vertidas em segredo,

as do suor de esforço desmedido,

as de sangue que tingiram os heróis.

Cultivando a dor nova

em peito velho...

Dobrando os joelhos em orações

e mantras...

Entoando os fonemas de apazigação...

A poesia é bálsamo.

É lenitivo para a indiferença...

Para olhos e ouvidos cansados...

Para corpos que envelhecem

descaradamente perante o

espelho...

E deixam rugas

em nossa autoestima.

A poesia catada

no canto das escadas...

Nas prateleiras mais altas

Nas ruas íngremes e sem saída...

A poesia nos atropela tanto

E de tal forma intensa

e definitiva

Que estamos marcados por ela,

Nela e para muito além de nossos sentidos.

Somos seres poéticos que se

humanizaram aos poucos.

Conhecemos primeiro a eternidade

E depois, bem depois,

a morte.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/02/2013
Reeditado em 10/02/2013
Código do texto: T4133101
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