Boca boa
Boca boa
A boca come solta feito fera;
Come o barro, o vento e a quimera.
Devora sonhos e sanhas;
Em tudo se assanha. Se arregenha.
É boca boa, não é à toa que é à toa,
Cheia de razão e de dentes;
Cospe, despe e inda caçoa.
Não respeita nem parentes.
Mas a boca não é má; é boca boa.
À boca da noite eu me rendo,
Me prendo ao estalo do açoite
Dos ventos que uivam sobre os fios;
Desafios de notas musicais,
Que se encantam nas horas vespertinas
Onde pousam as pombas e os pardais.