No palco em que me habito
A cada crepuscular madrugada sou a distância
de mim própria encurtada. O barco naufragado
na maré vasa do mar alto. Derrotado em batalhas
travadas nas veias abrasadas do meu sangue.
O renascer sob empinados escombros das chuvas,
sob o manto constante de relâmpagos e trovoadas.
Sou igualmente, os dias alimentados de vazios
onde se metamorfoseiam sinistros Corvos em vestes
alvas. Plumagens de anjos! Ou a Cigarra entontecida
provinda de planícies ávidas. O desconcerto do vento...
A carne envelhecida antes do tempo.
A palavra ressuscitada na tangente de silvados abruptos.
O contraluz de encalacrados e estrábicos galhos, alojados
na garganta insubmissa da esperança murcha.
Ou ainda as lágrimas acordadas no bucho das alvoradas.
A flor da noite amarrotada nas pregas vincadas da vida.
O ventre-rio efectivo onde deslizam bichos de sangue frio.
O esplendor das relvas encolhidas após o corte. Ou o fulgor
dos clarinetes d’Edens, provindos em astronaves dos bosques.
Sou o silêncio aromatizado pelas letras de um Fado. E o
depauperar de Montes povoados de Silfos e Mastodontes ...
Sou o riso desassisado e logo o pranto...
No palco onde me habito, sou o nada e sou o tanto ...