A minha ferida
Nem cicatriz eu quero
Quero vê-la sangrar de vez em quando
Quero a dor do ter vivido
Quero sentir saudade eterna
Quero a agulhada do momento latejando
Quero o inferno da vontade chegando
Uma cicatriz inacabada
Uma ferida sem cura
Uma cura sem remédio
É assim que eu quero
Quero sentir a febre chegando
O calafrio de ter partido
A despedida sem palavras
O dito escondido embaixo do olhar
O toque não consumado
O gesto inacabado
O abraço sem braços, sem mãos
O deslocar do sentimento
O absurdo da demora
O gotejar do pranto que inunda
A pele arranhada pelas lembranças
Quero a agonia de saber que posso
O infindável caminhar para o abismo
O sacrifício de emudecer
A coragem de escrever
É assim que quero...