CISMA
Ficava cismando
Se a outra chorava,
Se a outra sorria.
A outra passava.
Não via.
Cabelos ao vento,
Sorriso no rosto,
Um gesto da mão,
Um charme, um encanto
E ela cismando...
Um vestido novo,
Lágrima que cai,
Vitrine do tempo,
Uma fotografia.
E ela cismando.
A outra, não via.
Uma nova letra,
Aceno de mão,
Uma poesia,
Ao final do dia,
No meio da vida.
E ela cismando,
Só observava
O que a outra fazia,
O que ela dizia...
E a outra passava,
Nem via.
Um olhar de encanto
Pela nuvenzinha,
Uma gargalhada,
Um mero elogio
E ela já achava
Que era de cio!
E tomava conta,
gastava em desvelos,
Os seus cotovelos.
E a outra passava,
E a outra não via.
Uma só palavra
Que a outra dizia,
E que ela escutava
E sem dó, torcia!...
Perdia-se em sílabas:
Gomos
Secos
Turvos...
Prendia entre os lábios
Soltava entre os dentes
Tantas orações
Por aquela pobre
Alma doente!
E ela nem via,
E ela passava,
E a barra da saia
A única coisa
Que ela arrastava.
Deixava os seus passos
Que a outra seguia
Marcados no chão
Por onde pisava;
E nem percebia
Que a outra cismava.