O CASO DA TROCA

Voltava eu do trabalho

Nem tão tarde ... nem tão cedo

E, estando a rua deserta,

Por instinto tive medo

Um terror não sem assunto

Destes que chamam fobia,

Mas por notar que ao longe

Algum vulto me seguia

A cada passo que eu dava

Com outro ele respondia,

E a cada esquina dobrada

Num segundo ele aparecia

Já tendo vencido a distância

De três quadras percorridas

Entrei, cansado da andança,

Em um beco sem saída

Volvi-me a ver o vulto

Que sinistramente sorria

E mostrava-se obscuro

sobre tudo que pretendia

Eu, sem graça, lhe mostrava

Bolsos vazios e as mãos,

Contudo ele apontou

Um caco de telha no chão

Peguei o caco e fiz

Gestos de não entender

Ele disse: este é o giz

O muro, onde escrever.

Assim deu-se a primeira vez

Do ataque de um poema

Ao poeta que o fez

Escrever esta pequena:

“Quando o poema é do autor,

Não representa um problema,

Difícil é quando o escritor

É que passa a ser do poema.”

Saulo Palemor
Enviado por Saulo Palemor em 15/01/2013
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