Versos doces
Se eu te relatasse
Os fatos menos absurdos,
Os pensamentos surdos
Molhariam a tua face
Assim que eu te contasse
O menor dos absurdos.
Se eu ousasse
Contar-te os fatos mais absurdos
Dos meus pensamentos surdos,
Um espanto, em tua face -
Leve como alface -
Deixaria teus olhos surdos.
Se eu te declarasse
Todas as minhas besteiras,
Talvez tuas calmas fagueiras
Escorreriam pela nossa face -
Como se o vento roubasse
As nossas vidas ligeiras.
Se eu te dissesse
As coisas indecifráveis,
Teus sorrisos amáveis
Sumiriam como prece.
Por isso, esquece
As coisas incontáveis.
Leitor, se eu não te amasse,
Tudo eu contaria:
A maior porcaria
Inundaria minha face.
Mas aí, talvez acabasse
A nossa meiga alegria.
Se não te confiasse
As minhas crenças secretas,
Eu não seria um dos poetas
E nem mostraria a face.
Talvez eu nem te guardasse
Nas minhas memórias prediletas.
Eu te confio, leitor,
Tudo o que em mim existe.
E, quando me sinto triste,
Eu me lembro de teu amor.
Assim não sinto mais dor -
A dor não me resiste.
Jamais te esquecerei
E um dia, quem sabe -
D'antes que o mundo se acabe -
Minhas besteiras eu direi.
Deste modo, eu chorarei
A felicidade que não me cabe.
E, chegado meu último riso,
Terei teu riso em mente.
Tu serás mais presente
Neste momento impreciso.
Leitor, tu és meu paraíso...
Sem ti sou um ausente.
Há coisas desimportantes
Que não precisam ser contadas.
Precisam ser apenas amadas
A todos os doces instantes...
Como os loucos amantes
Guardam suas crenças sonhadas.
12/01/2013