A minha vida é poesia

*Leitores, não sei o que me ocorre... Eu sinto ultimamente uma grande dependência da criação poética e isso cresce a cada dia. Feliz ou infelizmente, eu só obedeço - pois eu sou apenas um poeta inconsequente, assim como digo em "Meu mundo".

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Uma janela não diz nada,

Mas pensa em tudo...

Um espelho não diz nada,

Mas reflete tudo...

Um relógio não diz nada,

Não diz nem as horas -

Mas manda em tudo...

Eu digo tudo,

Pensando em nada

E penso em tudo

Sem dizer nada...

A sombra só é sombra

Porque existe luz.

A sombra só é negra

Porque a luz é clara.

O futuro só é futuro

Porque o passado existe, ou -

Para os mais céticos -

Existiu...

O futuro só é incerto

Porque existe a certeza do passado.

E o passado só é certo

Porque existem as incertezas do futuro.

Nada mais certo

Que as incertezas do futuro...

Sou poeta

Porque às vezes penso em tudo

E não digo nada.

E sou poeta

Porque às vezes não penso em nada,

Dizendo tudo.

Uma porta é mais que uma porta:

É uma esperança.

As portas foram criadas

Por um tresloucado

Desesperado, desatinado -

Loucamente esperançoso.

Uma porta é sempre uma esperança.

Pena que a esperança

Nem sempre é uma porta

E, quando porta,

Raramente aberta

Nos corações em desventura.

Uma cama é mais que uma cama:

É um descanso.

As camas foram criadas

Por um tresloucado

Desesperado, desatinado -

Loucamente exausto.

Uma cama é sempre um descanso.

Pena que o descanso

Nem sempre é uma cama

E, quando cama,

Raramente pronto ou feito

Para os corpos mais angustiados.

Um óculos é mais que um óculos:

É uma história.

Os óculos foram criados

Por um tresloucado

Desesperado, desatinado -

Loucamente cego.

Um óculos é sempre uma história.

Pena que a história

Nem sempre é um óculos

E, quando óculos,

Raramente ajustada

Para os olhos mais sedentos.

E eu sou poeta simplesmente -

Inconsequentemente sou

Poeta.

Assim mesmo,

Sem mais

Ou sem menos

Existências -

Sem outras essências.

E fui criado por mim mesmo:

Um tresloucado

Desesperado, desatinado -

Loucamente e vagamente

Inexato.

Eu me crio todo dia

E crio, também,

Todos os meus dias

Todas as minhas janelas

Todos os meus espelhos

Todos os meus relógios

Todas as minhas sombras

Todas as minhas luzes

Todos os meus futuros

Todos os meus passados

Todas as minhas portas

Todas as minhas esperanças

Todas as minhas camas

Todos os meus descansos

Todos os meus óculos

Todas as minhas histórias...

Isso mesmo...

Eu me crio e crio

Todas as minhas coisas,

Todo o meu mundo!

Porém só Cecília Meireles

Sabe onde está a minha felicidade.

Eu não sei, pois - inconsequentemente -

Sou apenas um poeta...

Quando pessoas queridas me perguntam:

"Posso ajudar?"

Eu respondo:

"Você pode sim.

Não suma nunca

Ou suma para sempre..."

...

Parece dureza,

Mas é ternura e medo

De uma possível saudade...

Eu não me importaria nunca mais

Com minha felicidade

Se o dia amanhecesse

Com todos os outros seres humanos

Sorrindo...

Talvez esteja aí

A minha felicidade.

Mas isso,

Cabe à Cecília

Responder.

As minhas coisas, eu as crio!

Mas a minha vida

É poesia...

29/12/2012

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 29/12/2012
Reeditado em 30/12/2012
Código do texto: T4059175
Classificação de conteúdo: seguro
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