Das paredes

Vejo, nas paredes,

O maior dos desabafos;

O maior segredo

Dos poetas...

Quatro paredes brancas.

Quatro paredes

Mudamente Consoladoras.

Quatro paredes...

Quatro paredes

Surdamente tolerantes,

Absurdamente sensíveis,

Profundamente acolhedoras!

Quatro silêncios

E um som perturbador -

De tal modo -

Consolador.

Quatro silêncios

Que oscilam pelos tímpanos tristonhos

E dizem as coisas mais doces,

As coisas mais vagas,

As coisas mais inexatas,

Mais imprecisas,

Mais indefiníveis -

Indecifráveis...

Quatro panos em que prantos

São absorvidos -

Surda abdução...

Silente comoção...

E vejo os reflexos de minha voz

Nestas quatro paredes!

Quatro reflexos que vagam

Pela eterna solidão de um momento triste

E que pulsam nas cordas

Da esperança.

Ah! Também as mudas paredes falam -

Ao menos essas quatro paredes

Falam...

Um dialeto que ainda não decifrei...

Vozes que oscilam na frequência

Da felicidade -

E o meu tímpano insiste

Na seguinte pulsação:

"Sê feliz, sê feliz, sê feliz..."

São elas, leitores,

As senhoras de todos os meus pensamentos.

Pois são elas

Tudo o que existe em mim -

E sou eu

Tudo o que existe nelas.

Amigos, conversai com suas paredes...

Haveria menos infelizes neste mundo...

Na ausência de parede,

Vale até uma lágrima...

Só não deixeis, meus caros,

A solidão sonora

Roubar a voz

De vossas paredes mudas!

29/12/2012

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 29/12/2012
Reeditado em 29/12/2012
Código do texto: T4058766
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