Herói sem face
Herói sem face
Mesmo entre o horror da carne dilacerada,
Em meio a bombas e catástrofes,
Sigo de espada em riste como um anti-herói.
Fétidas catacumbas me rodeiam;
Vermes e venenos transcendem o ar;
Palavras são navalhas que tolhem minha alma.
Até silêncio é inimigo mortal, é pecado.
Não vejo nem um dia ou noite santa,
Nenhum feriado que me faça parar.
Os pés são ventos em redemoinhos
Que me lançam trôpego na lida atroz;
Só quando a poesia rompe o medo
É que parece ser vida plena de harmonia.
Mesmo assim a lança do destino algoz
Crava nas paredes do meu peito
E a dor retorna à revelia da sua vontade
E em detrimento da minha que falseia.
As vaidades teimam em queimar;
Todos os pecados dançam à baila do front;
Minha salvação vem lá dos montes,
Dos ventos uivantes e das colinas,
Dos lugares mais sombrios e recônditos
Onde os espíritos cantam, dançam e desafiam.