NUDEZ
Choveu o céu cristais de gelo nunca antes vistos
quando a grande angústia alcançou nuvens horizontais
que pairavam escondendo, em sua moldura azul,
todo o infinito condenado em suas estranhas frialdades.
Desnudou-se-me a imensidade em vultos frios e mortais.
E da terra umedecida pela chuva abismal percebi
que minhas frágeis asas, oníricas e desvairadas,
convergiam-se em um manto estranho e mortal para, depois,
desaparecerem-se com a minha nudez tantas vezes escondida.
Vi-me então como jamais antes me fora visto de meus esconderijos.
E grande temor se me apossou com as muralhas destruídas
que tantas vezes abrigaram mundos em atuações incompreendidas.
Foi então que percebi que o céu, e o além- dele, e o tudo que há
nada mais fora ou venha a ser que o nada que me habita em imagens falsificadas.
Desnudei-me enfim e, no cansaço e dor extrema da queda fatídica,
vieram beber de minhas entranhas expostas todos os anjos mascarados de alvo branco,
e todos os demônios assumidos em seus delírios, e todos os demais seres bizarros
na multidão ainda de mim desconhecida, deixando-me espalhado macabramente,
sem essência alguma, numa fina névoa de poeira, sombriamente oculta em teus semblantes.
Péricles Alves de Oliveira