Sorvedouro de Tempo
Apenas um ano,
Separa-me do dia,
Em que deixei a casa onde nasci,
Minha mãe e irmãos.
Mas quando os visito,
Tenho a impressão,
De nunca ter morado ali.
Após o último carnaval,
Mudei de emprego.
Em agosto,
Completam-se seis meses.
Quando me lembro,
Do trabalho e da viagem:
Ida e volta para a Paulista.
E dos amigos,
Que é a parte fácil:
Tenho todos no Facebook.
Parece-me,
Que os quatro anos de registro,
São muito antigos.
Anteriores até,
Ao dia que inventaram o Orkut.
Em minha atual ocupação,
Tudo é perto:
A viagem de ônibus,
A ida e a volta,
O início e o fim da semana.
O tempo é curto.
Ao meu redor,
A um passo da aposentadoria,
Novos colegas.
Sobre minha mesa,
Um enfeite:
Um velociraptor amarelo.
Será verdade?
Todos esses dias se passaram?
Não foi ainda ontem,
Que pela primeira vez,
Sentei-me nessa cadeira?
Ou que dinossauros iguais ao meu,
Alegremente caçavam,
Herbívoros irmãos seus?
Para nós,
De um dia para o outro,
Em um piscar de olhos,
É hora de se aposentar.
Para o réptil orgulhoso,
Um leve tropeço,
Em uma falha do cretáceo.
Talvez,
Na própria Rocha Moutonnée.
E pronto,
Cá está ele.
Um pequeno fóssil de plástico.
Assim como,
Na vastidão do Espaço,
Nem mesmo a luz,
Escapa aos Buracos Negros.
Nossos dias, meses e anos,
Não fluem como rios.
Mas caem sem salvação,
Em Redemoinhos de amnésia e tédio.
Os mais belos feitos,
Tombam agonizantes.
E entre doces e amargos,
Sorvedouros de Tempo,
Para sempre,
Silenciam-se.