PLEITEIO
Pleiteio, em minha sanidade incompreendida aos olhos teus,
o direito de apenas sonhar te amar sem palavras ou sorrisos,
sem juras de amor cuspidas dos lábios ou promessas de além-mares,
e sem que te exponha a hemorragia interna que me consome.
Não sei, nos extremos meus, qual o limite entre o homem e o monstro que me habitam.
Se me firmo os pés presos ao chão, homem sou crucificado pela terra,
condenado a rastejar em desejos amargurados e a me acovardar perante a carne.
Se me dou asas invisíveis, derrubo a razão, e no vôo imaginário e intangível,
vou me matando aos poucos na ilusão e, comigo, levo-te à fria cova sepulcral.
Não sei, nos extremos teus, qual o limite entre a mulher e a imaculada.
Se te firmo os pés ao chão, mulher te vejo e te crucifixo à terra,
condenando-te a negares dos desejos que te inflamam e a te acovardares perante a carne.
Se te dou asas invisíveis, faço-te em mim minha senhora, e no meu vôo imaginário e intangível,
por incompreensão tua e incapacidade minha, mato-te e vou contigo à fria cova sepulcral.
Mas como não sou capaz de ser nem só homem, nem só monstro, mas uma tormenta
zunindo ao teu ouvido ora a ternura dos amantes, ora os brados que te enlouquecem,
por que haveria eu de ousar saber de ti e de contigo partilhar o amor dos sonhos meus,
ou de comigo escorregar pelo tempo, em dor, no mesmo leito eterno de minha loucura?
Péricles Alves de Oliveira