Para onde vão os poetas quando morrem?
não aqueles das academias, dos fardões
rígidos e engomados nas cadeiras
esses já ganham a imortalidade
antes de pendurarem as chuteiras
falo desses poetas que andam pelas ruas
fazendo poema efêmero e transeunte
que se atrevem a soltar seus versos
mesmo que ninguém assunte
será que ficarão presos aos postes
como restos de pipa ou cadarços de sapato
quem sabe jogados ao lado da lata de lixo
como bolotas de papel amassado?
falo desses anjos desvairados
que andam por praças, igrejas, botequim
que nascem com poesia estampada na alma
e não de um versador qualquer chinfrim
que será feito de sua poesia essencial
quando fechar os olhos pela última vez?
quem arquivará uma vida toda de lirismo
quem chorará do poeta a viuvez?
talvez voem pelo céu feito nuvem ou estrela
inspirando uma trova, um soneto ou um haikai
quem desata o fio de prata de um poeta?
quem etiqueta a mala do trovador que se vai?
Helenice Priedols