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Importa-me



Importa-me o chão onde piso,
O caminho que sigo
E que se estende
À minha frente
Sem que eu tenha pedido.

Importa-me o dia que nasce,
Assim, oferecido
Como uma dádiva
Caída do mistério
De um deus antigo
Abduzido.

Importam-me as letras que caem
Em minha folha,
Importa-me a bolha
Nas pontas dos dedos
Quando eu escrevo.

Importa-me tudo aquilo
Que tem importância:
A água na torneira,
A comida na despensa,
A flor no canteiro,
Meu rosto no espelho.

Importa-me o pano que cobre
Meu corpo do frio
Da noite, que cai
Sem dó nem piedade
Sobre minhas costas.

Importa-me o nome que assino,
Importa-me a sina da vida,
Importa-me a porta
Que abro e que fecho,
Por amor e escolha,
O orvalho na folha.

O que tu és, não me importa,
Quem finges ser,
Quem dizes ser,
A imagem obscura
Que tu configuras
O personagem sem medidas
Desmedidamente esquivo,
Ah, causas-me riso,
Mas isso não importa...

*


 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 03/11/2012
Reeditado em 03/11/2012
Código do texto: T3966130
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