E se a Urna falasse?
E se a urna falasse?
se a urna pudesse sentir
a indiferença
a ingenuidade
a desesperança?
seria ainda a velha urna do confirma e do corrige?
Ela debateria com o eleitor?
Ela tentaria mostrar ao sujeito que mais do que mais um
ele é quem decide
mais do que um alienado
ele pode ser alguém, e sim, mudar o mundo?
E se a urna desistisse?
se a urna falasse ao eleitor
que ele não vota mais
porque ela cansou-se
cansou-se da má vontade do cidadão
da má fé do eleito
da foto sorridente
do número que rima com o jingle?
E se a urna cansar de ser democrática?
Se decidir que decide melhor que o cidadão?
E se a urna simplesmente parar
desligar-se num suicídio eletrônico
se decidir que carrega um fardo pesado demais
se achar que sozinha não pode conscientizar
não pode ensinar
não pode decidir?
E se a urna fugir?
E se a urna resolver deixar pra trás
a decisão
a dúvida
a indiferença
o fardo?
E se a urna não se importar?
Ser tal qual os que passam por ela aos milhares
deixar passar o tempo, acreditar no futuro distante
o mais perfeito dos mundo, o futuro distante
e sem qualquer arrependimento, decidir entregar-se
ao futuro brilhante ao fim do tempo?
E se a urna puder dizer uma só palavra
antes de voltar à inatividade após uma única palavra
que diria a urna?
E se pudesse debater por um único momento
se propusesse uma pergunta
pudesse replicar a resposta
que perguntaria a urna?
E se tudo fosse um sonho
e se a urna simplesmente se transformasse
se pudesse ser um barco de pesca
se pudesse ser um tanque de guerra
se pudesse ser uma bandeira branca
se pudesse ser nada
que seria a urna?
E se a urna jamais puder pensar
se a urna não puder enredar-se na incerteza
quem o fará?
quem vai falar?