Noite e dia
És rua que eu não conheço
Uma longa noite no frio
Com seus sobrados antigos
E seus segredos sombrios
Suas veias são vielas
Os seus olhos, as janelas
Por onde enxergas o que cria
O teu louco coração-guia
E das tampas do esgoto exalas
Um indisfarçável vapor
Do que carregas latente
Que ao longo se acumulou
São dejetos, são rejeitos
Vômitos dos teus rancores
Amarguras acumuladas
Lodos viscosos, bolores
Nem percebes que as horas
Cúmplices implacáveis na noite
Te traem a cada minuto
Trazendo à luz teus açoites
Quando os raios finalmente
Iluminam o chão opaco
Reluzindo inclemente
Becos, recantos e arcos
Morre frágil, debelado
Passivamente o teu garbo
Teus ruídos silenciosos
Não mais serão escutados
E na intensa balbúrdia
Em que a vida enche as ruas
Sobram apenas as horas
Agora inimigas tuas