Fantasma infeliz
A minha internalização começa nessa rua
sem saber direito se a ideia é minha ou sua
quando corro, algo estranho acontece no ego
sinceramente eu já não sei o que esta coisa é
mas escuto o quebrantar do resto de uma fé
e isto é diferente daquilo tudo que sinto e pego
De repente um belo choque me ataca de salto
corro para os montes e escolho aquele mais alto
para dizer ao mundo que estou bem do meu jeito
mas algo no fundo da cabeça quer mais do que isso
desafiando meu animal interno a ser alguém submisso
abro-me e vejo que o circo foi me tirado deste peito
Mas não é vazio esta coisa estranha que sinto agora
é o eco do badalar cantante da minha primeira aurora
quando chorava longe do seio de mãe que tinha que ter
minhas lembranças são canções sem nexo nenhum
quando seres celestes me reduziam a apenas mais um
humano com todas as suas canções do tristíssimo ser
Perguntas caem como facas no meu delicado corpo
sem que eu tenha em mim nenhum tipo de anticorpo
pois não fui nascer feito toda humana gente
falta-me, a rigor, a matéria que me impele
falta quase tudo: óssos, músculo e pele
e destas faltas a minha voz incorpórea se ressente
Não sei porque mas adoro este ressentimento
ele é a minha única forma de pensamento
que ancora a minha nulidade naquilo que é real
mas olho a natureza com tristeza e certo desprezo
passarinhos cantam melhor que eu que sou coeso
e até mesmo o mar existe, sendo somente água e sal
Sou aquele que tem em mente apenas uma mente
e uma lingua que quando te canta nunca mente
pois o amor com mentiras não existe
mas vou atrás de espelhos para ver o que percebo
e a visão parece apenas um tipo raro de placebo
da felicidade que, quando me vê, desiste
Não sei o que será de um fantasma infeliz
pois raros são aqueles que ouvem o que diz
minha epiglote que nada come
vou atrás de gente que fica brincando
criando confusões no plano onde ando
mas quando apareço todo mundo some!