Fósforo
Na palavra-enigma
A desafiar a esfinge
Num revés de Édipo
Eu lhe pergunto: o que você vê no mundo?
E se numa cegueira branca e poética
Você só ver uma sucessão de sombras,
Uma sinfonia de sussurros
Ou uma metáfora da metáfora
Que metaforicamente se esconde numa mentira
escrachada…
Na palavra-enigma
As sílabas são mágicas
E somam fonemas capazes de modificar tudo…
Parar o tempo
Estancar as sangrias
Cessar as guerras
E até indicar a morte.
E se a morte não significa o fim?
Na palavra-enigma
Somos iguais apesar de diferentes
Somos coloridos e pardos
Mas na pemumbra é a luz
Que nos descobre
É a aurora do dia que nos
Faz nascer no horizonte
Ao acordar
E com os sonhos embaralhados
Ainda acreditar na sorte e
na realidade
Talvez acordados estejamos ainda sonhando.
Na palavra-enigma
Os coringas se despedem de
sua fungibilidade
Sua utilidade e poder de bobo da corte
A rir e fazer rir
A chorar e lograr o engano no
póximo filisteu
Na palavra-enigma
Destruo castelos inteiros,
Corrroemos memórias
Deciframos silêncios e
mentes
Deciframos intenções e gestos.
E, apesar de ter entrado sem convite
Estamos a esperado barqueiro
Com as moedas na mão…
Para taparmos os olhos…
Somos pedintes
diante da palavra
Somos miseráveis
diante dos sentidos
Somos humanos
Diante dos deuses ou
Nosssas limitações…
Diante dos enigmas
Na palavra-enigma
a descoberta fatal
da palavra:
De onde ela vem?
Para onde ela vai?
Quem a diz… ou decreta?
Não importa.
Nem se a ouvimos
Principalmente se em sua semântica
Irá perfurar nossa carne, ceifar nossa vida
Num gesto bruto e inesperado
E arquitetado pelo acaso
E por acaso.
O enigma se dissolve
Num olhar aceso por um mero
fósforo da razão.