ESTRELA DA MEIA NOITE
Caminho de mil pés
tropeços
vendes a tua alma
ao primeiro mercador
e esbanjas fartura
em franjas de rua
em bocas de beijos
e vais-te nua
deitar aos pés
destas noites
estrela brilhante
até que um céu adverso
desabe suas águas cortantes
sobre as tuas feridas
recém colhidas
Bebes ao soberano
de boca verde
e olhos vigilantes
mas logo o seu reino
te engole de um golpe
como resto de festim
cão voraz e faminto
recolhendo as sobras
Eras apenas carne
e gozo
flor na tempestade
pensando ser estrela
em céu coroado
sonhando os céus
que nunca te pertenceram
Agora és tu mesma
em tua essência contrita
ave de asa partida
rotos os paetês
rasgadas as sedas
De puslos atados
liberta
de carne lanhada
sublime
de olhos vendados
jamais
tão lúcida!