Pimpinella anisum

 
Podem!
Podem me podar!
Com tampas e tapas
culpas e capas
caretas e baionetas.

Podem!
Torcer o nariz
me pôr por um triz
 No cada(falso) da forca
à beira, à força
na fogueira
ou guilhotina
vinho com estricnina!

Podem!
 Com lâmina de aço
talhem meu talo
suguem meu sumo
consumam o bagaço!

Podem!
Com uma mordaça
calem meu argumento
tragam o cimento
emparedem-me com argamassa!

Podem!
Rasgar meu papel almaço 
amassar meu roteiro
pôr traça no meu traço
desprezar minha caneta-tinteiro.

Contudo
Você de luto 
Eu ressucito 
assusto
assombro
Grito!
Não me calo:
Cresço com o atrito como o calo
(e falo)!
De repente
da minha cicatriz:
semente
raiz
caule
 folha 
flor
 fruto.

De anis.


Podem!
Podem me podar!
Sou erva-doce,
se você tritura, esmaga, pisa
não morro, mas exalo.
Você vem com o seu terror
Eu
entorno,
 em torno,
me torno
 confeite, remédio, licor.

 
Well Coelho
Enviado por Well Coelho em 26/06/2012
Reeditado em 28/06/2012
Código do texto: T3746753
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