O Homem que Observava

Seus imensos olhos enluarados observam atônitos os carros perpassarem pelas árvores cinzentas, de linhas retas daquela floresta inanimada.

Defendia os seus, com voracidade capitalista, com amorosidade platônica de quem entardecia com o bico cheio de dentes e penas gastas pela labuta diária da selva, selvagem de vida pulsante e constante, como o coração que nunca para, nem descansa.

Seu ninho é alto, mas sua função na cadeia social: baixa. Dele, seu canto soa penosamente, piamente, como acordes dolorosos de uma viola. A noite vem voraz, o dia foi voraz, será voraz, assim como serão todos do porvir.

Aranhas tecem teias na sua porta, abre-se e ouve sons: pios, buzinas e uma série de resmungos indecifráveis, advindos do tumulto da floresta que não pára. Observa o sol se por, por trás da antena de uma velha árvore com folhas de vidro reluzentes.

Ânsia de liberdade total, de preceitos, de pensar, ou apenas de ser quem és, preso sois, pois te prendes a uma floresta de regras sem questionar... Não vives, apenas existes, cumprindo sua função de ser modelado.

Quem te dera coruja urbana, dar-te o derradeiro vôo à tua liberdade, de ser um ser eternamente livre.

Helder Mineiro