**** Frações do Tempo ***
Sou a lentidão do tempo que se arrasta
O romper da manhã que nunca chega
Sou o sol que aquece e na distancia desaparece
Sou o dia que nasce à tarde que morre
Sou as ruas sem tuas pegadas
Sou o frio em busca do abrigo
Sou a chuva em busca da terra
Sou o outono a espera da primavera tardia
Sou o riacho sem margem correndo solitário
Sou o vento nas noites escuras
Sou a dor sou o pranto que cria o riso repentino
Sou a distancia exata entre a razão e a solidão
Sou a procura efêmera de um momento esquecido
Sou o espaço que desaparece ao som de um ruído
Sou eu e sou você
Sou o balanço que as emoções desvanecem
Sou o silencio da voz consciente
Sou a busca oculta de um movimento
que se distancia disforme
Sou a procura que se admite entre as brumas da mente entorpecida
E que se ausenta na lucidez da luz que se acende
Sou o som... Que desaparece nas paredes vazias
Sou a ausência presente nas melodias
Sou a lagrima que brilha nas retinas
Sou a verdade que se esconde na covardia
Sou os olhos do tempo...
Que expurga toda mentira
Que silencia na garganta o medo
Sou o encanto de um momento entre a dor e a alegria
Sou a chegada da partida repentina
Sou o nada... Sou o todo
Sou a tua espera e o teu perigo
Sou tua alma
Sou o complemento que rejeitas e procuras
Sou a ternura que cria nos sons que viaja no espaço de um movimento
Sou a calmaria das águas tranqüilas
Onde te escondes de ti e te mostras mim
Na amplitude do silencio
Sou a eternidade do tempo
Sou o começo... Sou o fim de um dia
Sou a busca que se completa
Quando se ausenta na liberdade de ser
Um elo...
Que permanece entre o tempo e o espaço
Que se forma na claridade obscura de um momento
Fracionado...
Bilherbeck
São Paulo, 10/10/86