Estorvo
Meu lado esquerdo tem a minha parte inteira
Então sou metade de uma parte da vida
Sem rumo, porta ou janela, aquarela
Que ninguém pintou por falta de tinta
A tinta preta, ausência permanente de cor
Siga em frente e não me veja, nem olhe ao redor
Não sou nada além de uma brisa que passou
A água que se foi rio abaixo e nunca mais voltou
Com a qual você lavou seu corpo e se banhou
Eu e nada somos irmãs na madrugada adormecida
Quase gêmeas nas pobres noites de pesadelo
Não tenho graça ou desfecho que possa interessar
Folhas abarrotadas de rabiscos inúteis, sem nexo
Complexo de desertos perdidos e sem sabor
Adorno sem propósito, sem lugar, sem preço
Digitais de um alguém que nunca amou
Se ainda assim alguma consideração mereço
Não me conte com o que você sonhou
Rasgue as lembranças onde eu apareço
Nem me diga aonde é que eu estou...