O gato faz que dorme.

Eu? Eu Olho o gato que faz que dorme!

Ela cantarola ao som e ritmo da chuva murmurante.

A janela se abre ao vento triste.

E com ele adentra o frio.

O café serpenteia pela sala 

O odor de uma saudade.

O bolo de fubá aguarda a frieza do palato,

Que não lhe fará jus.

 

O noticiário, em internetês reprovavel, avisa:

A fome perdura em um antigo país das secas

Carecem... De piedade?

Um grito perdura por um instante:

A morte é suja, ouço!

E eu?

Eu ouço Maria Callas e canto;

Lá por dentro,

onde somente eu me ouço.

 

Ora, eu canto porque o instante existe!

E nenhuma dor me moverá do instante!

Nenhuma ilusão me conduzirá para outro poema!

 

Eu só tenho amor; não tenho o que perdoar.

No mais, não creio no deus da vulguta em punho podre.

Não creio no fim.

O absurdo que perturba os incorrigiveis,

É a lucidez que me provoca o êxtase.

 

Eu tão somente aguardo a noite e as estrelas.

Eu tão somente volvo-me na eternidade,

Dos meus sonhos voláteis!

 

Olho a janela de dentro para  fora

E as luzes lá estão  por acender

É quase noite.

O gato ronrona (será que sonha?)

Ela me informa:

Não jantaremos hoje

Eu consinto, num sorriso incapaz

De dizer do tamanho amor que me cala.

 

Ela transcende em perfumes virginais...

És tão bela! (penso e não digo)

A tristeza me move de retorno a voz de Callas 

Em segredo resmungo os duros versos intimos  de Augusto dos anjos.

       

Versos Íntimos

Augusto dos Anjos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


                                 ***********************


Imagem:
Olimpio de Roseh - Porto de pesca no Canal do estuario de Santos também denominado Rio do meio por sua conformação que adentra as terras sepenteando feito rio de aguas doces.

 

Olimpio de Roseh
Enviado por Olimpio de Roseh em 08/06/2012
Reeditado em 19/06/2012
Código do texto: T3713323
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.