SEM RIMA 169.- ... paisagens femininas? ...

Já que andamos em contextos loucos, cumpre eu evocar o que o escritor espanhol (embora nado na Bascônia) dizia da Galiza ("Galicia"). Cito as suas palavras por comentadora - mulher espanhola - interposta, que traduzo:

"Abundam as personificações da Natureza, vista por Unamuno por meio dum subjetivismo acusado, de tal forma que parece como se a 'humanizase'. Assim, a água «é a consciência da paisagem», e a do rio é «consciência vivente, consciência movediça»; Galicia [sic] possui uma «paisagem feminina», que acaricia, adormece; a água secular desgastando e polindo o terreno lhe deu contornos ondulantes e sinuosos «como de seios e coxas mulheris»; os frondosos bosques de castinheiros, pinheiros, carvalhos, ulmeiros e outros mais, são «como frondosa cabeleira...»; é uma paisagem habitável que seduz como ninho incubador de «morrinhas e saudades»." (Palmira Sáinz Amigo, "España en los libros de viajes de Unamuno", in Asociación Internacional de Hispanistas, 'Actas', 1971, p. 138).

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Que dizermos? Eu, liricamente

(ou tal pretendia), também metaforizei

o corpo feminino (e por vezes o masculino)

com elementos, secções, aspetos,... da Natureza.

Mas Unamuno vai além, muito além da lírica:

Unamuno politiza a poesia, em prosa,

para justificar o predomínio da virilidade...

castelhana: "Castilla" é a mãe de "España";

portanto, no reino da Espanha tem de dominar

tudo o castelhano, tudo deve ser exprimido

no castelhano oficial...

Unamuno que viveu

em Salamanca (antigo reino de Leão,

quer dizer, da Galiza) durante grande parte

da sua existência, pretendia ser transcritor,

mais do que escritor, do léxico castelhano...

Estranhamente (incônscio?) transcrevia

ao seu jeito (quer dizer, atraiçoava

como fazem todos os escritores) os vocábulos

salmantinos, na origem leoneses, afinal

radicalmente galegos...

Ou portugueses...

Afinal esqueceu-me o tema deste "Sem Rima":

o corpo feminino como paisagem carnal...

Fique para um seguinte...