Eis isto
Canso, logo existo.
Tanto insisto
que caio num canto
debruço-me sobre meu pranto
sobre minha dor liquefeita
Feita sob medida para meus olhos
Olho em volta e tudo me é
Sou o manto desgastado
a rachadura de uma taça
o vidro que logo embaça
da flor, sou o malmequer
eu sou o frio que me tortura
a cortina da janela
a fotografia dela
a lembrança mais impura
sou também o acre gosto
que reside em minha boca
sou aquela muito pouca
desvontade de ser não
Ao olhar-me no espelho
meu reflexo reflete
e chega a uma conclusão
'Existir cansa'