Cobaia De Deus
“Nós, as cobaias, vivemos muito sós
Por isso, Deus, tem pena, e nos põe na cadeia
E nos faz cantar, dentro de uma cadeia
E nos põe numa clínica, e nos faz voar”
(Cazuza)
E quando tudo era imperfeição
Eu deitei em camas com pregos
Tão pontudos e dilaceradores
Quanto meu egocentrismo.
E numa pequena fração de segundos
Numa pausa cabal
Da criação própria de um novo deus
Respirei ares negros...
E fui homem
Servo escravo
Marionete barata
Controlado
Facilmente à distância.
E na ânsia
De ser maior
E no desejo maior
De nunca ser pó,
Matéria-prima reciclável,
Fui vômito de deus
Intocável e nojento
Rastejador e brinquedo.
Revoltado
Roguei ao pulmão enfraquecido
Um novo ar
E sob os olhares dos que duvidavam
Fiz-me segundo meu gosto
E meu querer fertilizou belos campos
E a poesia inundou minha vida.