Ser outono

Sou a flor sem primavera

Sou o frio sem inverno

Que dói nos ossos

Sou o tempo que nos

corrói

vagarosamente

Até que um iceberg

Esteja finalmente esculpido

Na alma branca azulada

Dessa manhã sem sol

Sou combustão sem o fogo

E queima, incinerando

A phenix arrependida

de renascer

O horizonte está apagado

O sol ausente

O milagre de mais um dia

Há ressentimentos de outono

Umas folhas vão embora

Para que outras apenas

possam nascer

Há um ângulo oblíquo

A apontar nossos pecados

Ou angústias

É o vetor transcrito pela

Folha cadente

Que passa por cima de nossas cabeças,

Nossos quereres

E se entrega a eternidade da morte

Sou a emoção cativa

Da lágrima contida

Dos olhos cúmplices

E do silêncio dos monges.

Estou no outono de minha vida

A desejar cada vez mais

intensamente

as primaveras invernais.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/05/2012
Código do texto: T3656528
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