Ser outono
Sou a flor sem primavera
Sou o frio sem inverno
Que dói nos ossos
Sou o tempo que nos
corrói
vagarosamente
Até que um iceberg
Esteja finalmente esculpido
Na alma branca azulada
Dessa manhã sem sol
Sou combustão sem o fogo
E queima, incinerando
A phenix arrependida
de renascer
O horizonte está apagado
O sol ausente
O milagre de mais um dia
Há ressentimentos de outono
Umas folhas vão embora
Para que outras apenas
possam nascer
Há um ângulo oblíquo
A apontar nossos pecados
Ou angústias
É o vetor transcrito pela
Folha cadente
Que passa por cima de nossas cabeças,
Nossos quereres
E se entrega a eternidade da morte
Sou a emoção cativa
Da lágrima contida
Dos olhos cúmplices
E do silêncio dos monges.
Estou no outono de minha vida
A desejar cada vez mais
intensamente
as primaveras invernais.