Guru
Quando chegaste a porta
Sua presença anunciou-se
Pelo silêncio a fora, e
foi reverberando pelas nuvens e
paisagem.
O silêncio que exalava era repleto de
expressões, olhos, espelhos e miragens.
Suspiros que se ouvia ao longe.
A alma que trazias na bagagem
estava compacta
E amassada por lembranças tristes.
Em seus passos havia resíduos de lama e mato
Seus pensamentos se anunciavam através dos rastros
de melancolia e maturidade
Dissestes tudo com reticências infinitas
A palavra se esquadrinhava lentamente
em suas vírgulas
ensaiadas e retóricas.
Sua ácida sinceridade corroía
toda a socialidade possível
Fechava cerros
Emburravam servos
Lacravam recepções.
Mas, contava com absoluta simplicidade
Sobre as coisas, todas as coisas…
Apontava conexões e ilações
Só perceptíveis com
a sagacidade de um samurai.
Você era guru
da mordacidade intrínseca
das narrativas
da mecânica da dor e da aprendizagem.
Do ritmo incompreensível das vagas
em meio a tempestade
que prenuncia a tragédia e fugacidade
da sobrevivência.
Você entoa a poética dos diálogos
Na sincronia certa da compreensão.
Quando chegaste novamente a porta
Tudo havia sido dito.
Tudo havia se materializado.
E desmaterializado como um átimo
Ou um delírio.