Eu sei e Ela sabe

Nada acontece, ou nada parece acontecer!

Eu sei e Ela sabe: se o coração está vazio,

O mundo é vasto, e a vida em si me basta, seu esplendor!

Se nada acontece, ou acontece através de uma justiça oculta,

Que posso fazer senão e além de dirigir uma prece?

Portanto, se a vida há, não tenho pressa, e só quero viver!

E estou disposto a pagar o preço, seja ele qual for...

Resignado vivo sem amor, sem teu fogo e teu afago!

E se contigo me abro, não te arranhas da minha dor, e o muito

Que te quero junto ao meu umbigo se dissolve em solidão

De travesseiro mordiscado noite adentro, a ausência de coito,

O beiço derrubado pelo eterno drama atávico do isolamento.

Apartado de Deus e empapuçado do Demônio, eis-me aqui vivo!

Nascido para o desprante, embotei-me um instante e acordei

Encagaçado... tudo ao meu redor me dava medo, e as pessoas

Tinha medo de mim... quão triste o meu fim: empatado o cu da avó!

Foi então que, plagiando Dona Hilda, comecei a inventar nomes

Simpáticos para o Camarada-Deus: Ó-Grandissíssimo-Cara-De-

Chibata! Sua-Tara-Nervosa-Do-Absoluto! Que-Eram-Aqueles-

Hinos-Que-Eu-Entoava-Observando-a-De-4? Ó-Cordilheira-Barbuda-

Do-Himalaia!Pleura-Dos-Andes! Fuinha-mor! A-Morte-Encadernada-Em-

Papel-Bíblia! Ilha-Da-Solidão-Magnânima! Ó-Sagrada-Eira-Nem-Beira!

E eu passava dias e dias a balbuciar semelhantes despautérios!

Eu, a cria, o ser de dentro do ser descontente com o próprio ser!

Culpado até a medula pelo fogo-fátuo de existir, de ir e vir, tornei-me

Ébrio na bebida da noite para o dia, do batente para o chão da Estripulia, e havia aderido à cultura decadente do auto-esquecimento, Do amansa-cuca, do-não-contem-comigo-por-que-eu-não-estou-em-Verdade-bem-acordado!Tornei-me um ferida grotesca no seio da Humanidade corrompida e devassa, eu, uma ressaca ambulante,

Um pedante derrotado me passando por cordeiro. Porém,

Entranto, todavia, ao me livar do nevoeiro e contemplar uma

Calcinha, sua marquinha, é claro, sobre o corpo de uma alma feminina,

Me senti como quem tivesse vislumbrado o céu, o paraíso, enfim, os Campos Elíseos! Aquilo era uma ducha fria e eu estava acordado... Sob a forma de tudo que o mundo havia me negado, e se havia algum Céu então eu me chamava cócegas-na-pica! A situação era crítica e O veneno era pouco, e então tentei fundo atrás de fundo de poço!

Mas nenhum fundo era tão fundo que coubesse o próprio mundo e Toda merda contida nele. E eu continuava com os nervos à flor da Pele, pedindo a Deus que me revelasse até mesmo o seguinte:

- Eu não existo, seu otário! Descanse em paz e desacredite do

Milagre! Relaxe e tente um baile! Vá à forra e tente só um pouquinho De uma boa farra saudável E ao ouvir aquilo a coisa toda me parecia Plausível, afinal Deus tinha razão, assim com a tem a voz da multidão. Meu erro era pensar demais, meu pecado viver de menos, não-raro Acuado ou azedo. Eu era humano, portanto a soma de todos os erros,

Acúmulo severo de enganos ledos. Eu era aquele quer arde, a tarde Dos meus anos idos ouvindo música lá no quintal de casa... de minha Casa, su casa! ... tão somente dando asas à minha pouca e flácida imaginação, corda lá nos meus brinquedos... vivendo apenas enquanto

Era cedo, sem credo, outrora vivendo verdadeiramente em vão, Rreescrevendo um poema antigo:"No jogo perigoso da vida, baby,

Não há de fato crise de consciência: pois, se não há consciência,

Meu amor, certamente haverá crise!" Violência Divina! O Senhor-Desejar e a Máquina-De-Fazer-Bobos! bomba-relógio alojada

No meu plexo solar... fumo de tabaco rói o ar! O que fazer, cara-

Pálida? Meu cavalo se mandou e minha noiva foi embora... e Corroboram todas as virtudes dela para me colocar em péssima Consideração, atenção para o detalhe: se não me falha a

Memória, ela costumava me amar... e como negar que isso era

Muito bom de se sentir? Mas nossa relação acaba-se assim:

Eu norte - Ela sul... Eu sei e Ela sabe: hoje o céu acordou azul!!!

Gato Véio Ferreira
Enviado por Gato Véio Ferreira em 26/04/2012
Reeditado em 26/04/2012
Código do texto: T3633588
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