Aqui confesso

Aqui confesso que não quis viver toda hora

como, por exemplo, durante minha catapora

que me aprisionou, longamente, a dura cama

e mesmo minha fronha estando assim já dura

aqueles misérabillísimos dias daquela pura tortura

foi amenizado um pouquinho só por quem me ama

Já não sei que má força é essa: coercível

com a propriedade específica de horrivel

que rudemente sempre vai e me impele

eu parto ao mundo que chamam de sadio

belíssimo e lógico, mas na vida de vadio

nenhuma dessas coisas me tocou a pele

Todos acham o ato do parto bonito

mas eu, com todo o meu ser aflito,

nunca encontrei características tais

vejo apenas o começo da longa luta

dos mortais, moldando sua conduta

na forma de leis e diretrizes sociais

No fim de um domingo Deus vem e cobre

o Mundo todo com bom manto bem nobre

feito de estrelas, que tem por nome “noite”

mas eu que só peco tenho, por mim, pena

a pesar a minha amaríssima alma pequena

já prevendo, de algum carrasco, seu açoite

Porque será que é só o verme

que se prontifica a comer-me

em um cemitério talvez santo

é este animal que vai ir findar

toda esta minha ânsia de lutar

quando a Terra for meu manto

O cemitério será onde acabará meu pranto

pois essa “Vida” toda foi só de desencanto

e de tentar “viver” como um pobre plebeu

para sempre ser pobre, em tudo muito sujo

ao ir se cobrir no rastejar do mal caramujo

essas são agregações de sujeira que sou eu

Como a passagem desses dias é inexata,

aprendo o quanto randomico o Tempo é

indo confessar a ti que a minha única fé

é na natureza que vêm, vê e enfim mata!

A Senhora das Gentes é dona engraçada,

ao ir jogar algumas almas na sua calçada

enquanto, as outras, nem atenção direito presta

justamente aquelas que a chama ainda sorrindo

pedindo a sua benção, a má miséria miserando,

pois sabem bem que a morte é só o que os resta

Tenho sofrido certas coisas que alguma dúvida traz

ao meu caro comfrade que perde a sua própria paz

ouvindo essas minhas tão inacabáveis desventuras

mas como todas as dimensões da cada uma das ações

sinceramente, fogem a quaisquer tipos de proporções

todos os que as ouvem julgam ser só frutos de loucura

Vem me agora umas ansias de dormir o dia inteiro

ao ir apagar as luzes da chama da alma – candeeiro

que mostra aos homens a inutlidade de uma paixão,

lembro do meu próprio parto, ficando já sem reação

Meus olhos esquizofrenicos veem vermes, sujo chão

como sou anormal enlouqueço sem ninguem ao lado

vejo alucinações monocromáticas, uma vermelhidão

o meu suícidio sanguinário que tem me atormentado

Que o bom Deus amaldiçoe o dia do meu parto

pois em vez do ato ir me fazer bem forte e farto

reuniu uns fantasmas, como doadores de preces,

eram corpos que eu achei fossem o meu mentor

mas que falharam de ir me resguardar dessa dor

e fez me acreditar que era o que meu ser mereçe

O meu último verso veio deste derradeiro fantasma

da Morte, que sempre se diverte com a minha asma

e as minhas incontáveis psicopatologias incuráveis

os médicos dizem que há tratamento para quase tudo

mas para mim, eu que sempre longamente me estudo

nunca achei uma boa cura para meus dias intragáveis

Aqui explico um fato talvez simplório

eu sou só um mero rato de laboratório

usando todo tipo de pilula que me dão

mas nenhuma (nem Rivotril) da a cura

para a minha ainda complicada loucura

que vem invadir as camaras do coração

E dessa forma, fico com a minha alma quieta

só, com as dores profundas e típicas do poeta

sem saber exatamente quais rimas que eu uso

tentando de toda forma arrancar pelos cabelos

os meus restos psiquicos de pesados pesadelos

produtos deste meu passado: gravíssimo abuso

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 23/04/2012
Código do texto: T3628702
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