Sexta-feira treze
E a semana fera felina
ferida pela marca numérica
supersticiosa da sexta-feira,
caber-me-ia tal sina?
o gato em bota vistosa atlética,
fitando-me, é azar? perdigueiras
são as vestes dessa lenda urbana
e, na correria, nas correias
dos Correios virtuais
vejo imagem doidivana
dos espelhos de uma cadeia
incessante, adestrando animais,
fragmentos de um todo social...
distraido, as horas sugam
o sumo das amenidades
e escadas cruzam o irreal
mundo heteroscópico de Plutão
Macunaima, uma das beldades
lá voa em luas arredores,
cá vem, misterioso como o treze
que floreia a Última Ceia,
nem mesmo que se reze
se esvai o estigma simbólico...
ora, se é a mesma Lua que clareia
por que não se uiva a esse dia?
hoje se mia esse canto retórico,
rouco, boêmio, histórico,
canto é resgate, encato d'alma,
eco elegante da maré da selva...
Niedson Medeiros, 13 de abril de 2012