O Peso da Alma
Podem roubar tesouros que façam os olhos luzir
Tirar o mundo e todos os pertences alheios
Levar com eles os sonhos que cada caixa continha
Fiquem com eles e ide seguir vossa vida
Porque com o peso da alma eu fico!
Circundem-se de todos os bens materiais
Façam as lágrimas caírem dos rostos
Apunhalem os corações de quem age com fé
Retirem tudo de todos os espaços
Remexam no íntimo de coisas queridas
Ide para onde quiserem ir
Porque com o peso da alma eu fico!
Perturbem o espaço e abanem os alicerces
Eles são forte eu sei que resistem
Fizeram-nos rastejar para apanhar as migalhas
Os restos que tão brutalmente levaram
Sei que a felicidade de conquistar cada fase
Fica guardada nas caixas que encontrei vazias
E com o peso da alma eu fico!
Rasguem as pequenas e simbólicas manifestações
Podeis crer que as recordações persistem
E num espaço perdido eu temo
Que sem fé ireis caminhar para o abismo
Nas marés de um mar revolto
Vão para a lenha da fogueira
Ardei com as ervas daninhas
Sóis a mesma desgraça
Ide porque com o peso da alma eu fico!
Mesmo que tudo se perca
Isso é apenas matéria
Incorpórea
Insensível
Temporal
Sem substância
Inerte
Levai porque com o peso da alma eu fico!
Virem gavetas e remexam a casa
Destruam as arcas e o que elas contêm
Partam em paz e não levem nada mais
Deixem-nos a alma e o coração
A esperança assente numa vela
Os valores resistem ao choque
Implacáveis face à brutalidade dos vossos actos
Magnânimes quando comparados com o procurais
Voltai as costas e ide
Levais muito
Vossos bolsos estão cheios
Não regresseis
Por favor levai convosco
A sombra das trevas
Com o peso da alma eu fico!