Não quero rosas, desde que haja rosas.
Não quero rosas, desde que haja rosas.
Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?
Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.
Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...
Fernando Pessoa, 7-1-1935.
Resposta:
Não tenho rosas pra te oferecer
Simplesmente agonias e inquietações
A certeza de que posso morrer
Nas muitas e infindas alucinações
Não tenho noites pra te encantar
Quando muito rastros que deixei pelo caminho
O que nem pensas um dia alcançar
Retalhos talvez de meus carinhos
Minha alma também é fria
Nada sei, nem quero explicar
Então joga fora com desprezo
Versos que uso pra lamentar
Ana Maria Carvalho, 3-4-2012