Em Reflexo

Despeço-me todas as noites de mim mesmo.

Achando-me e nessas encontrar o fulgor eterno.

Deito-me calado, esperando a morte a esmo.

Acordo-me vibrante entre vibrantes martelos.

Olho-me no espelho e não reconheço

O reflexo que fala.

Enxergo-me desconexo e arquejo

O que atrás do semblante resvala.

Sinto-me só sentindo-me surdo,

Soltando-me em soltos silvos.

Moldando-me em moldes mudos,

Movendo-me mole em miúdos mitos.

Ah! A saudade já corrói,

E quando de si a mesma é sentida,

Eu juro, meu peito dói.

Viver e sentir saudade da vida.

Que se perdeu nos trilhos do trem

De passagem dos passos e das pastagens.

Vida de vagões, gado e é tudo para quem tem

Retratos da vida e de suas postagens.

Eu me perdi ainda em vida

Na secura dos séculos que me passaram.

Pode ter sido uma parte esquecida

Ou a negligência de um esquecido passado.

Luís Clemente de Campos
Enviado por Luís Clemente de Campos em 01/04/2012
Código do texto: T3588186
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