Em Reflexo
Despeço-me todas as noites de mim mesmo.
Achando-me e nessas encontrar o fulgor eterno.
Deito-me calado, esperando a morte a esmo.
Acordo-me vibrante entre vibrantes martelos.
Olho-me no espelho e não reconheço
O reflexo que fala.
Enxergo-me desconexo e arquejo
O que atrás do semblante resvala.
Sinto-me só sentindo-me surdo,
Soltando-me em soltos silvos.
Moldando-me em moldes mudos,
Movendo-me mole em miúdos mitos.
Ah! A saudade já corrói,
E quando de si a mesma é sentida,
Eu juro, meu peito dói.
Viver e sentir saudade da vida.
Que se perdeu nos trilhos do trem
De passagem dos passos e das pastagens.
Vida de vagões, gado e é tudo para quem tem
Retratos da vida e de suas postagens.
Eu me perdi ainda em vida
Na secura dos séculos que me passaram.
Pode ter sido uma parte esquecida
Ou a negligência de um esquecido passado.