DAR AO CORPO O QUE É DO CORPO
(A ALMA AGRADECE)
Das lágrimas não vertidas
fizeram-se nuvens pra chover
e em não chovendo
o céu ficou encoberto
de impossibilidades derradeiras
Existem amores
que são temporais apenas anunciados
vontades não paridas
súplicas jamais ouvidas
chamas que ardem
em altar pagão
De joelhos diante dele
os olhos bebem
imagens de pés de barro
entopem- se as narinas
do odor de velas
de mortiças chamas
afundam-se as carnes
em fugidios genuflexórios
para a divindade
estátua fria que
não se fez corpo
nem desejo
Existem amores assim
cuja nascença e fim
são apenas verdades
das nossas mais
patéticas carências
Vade retro!
Levanta- te e anda
paralítica visionária
de ilusões falidas
teu corpo pede passagem
dá a ele a felicidade
que merece!
Ah que aquela lagoa
tão azul lavou
meus pecados
e tirou o ranço
de tragédias curtidas
o sol temperou minha pele
renasci como fênix
sentada naquela pedra
num fim de tarde
Faça-se a vontade
dos meus mais
profundos clamores
renasça a criança
sufocada
nesta outra nova mulher
para o que der e vier!
(Amém...)