Nascimento da morte
Logo que nasceste
abandonaste o escuro acolhedor
de meu ventre
E fostes se aventurar
na imensidão do mundo
no mistério dos sentidos
e sentimentos alheios
Fostes te antecipar
aos olhos ávidos e julgadores
Tão logo aportaste nesse cais
as amarras lhe foram frouxas
E teu casco a balouçar
tremiam por seus medos inconfessáveis
Logo que nasceste
diante ofegante espera
e o silêncio pétreo
edificado no meio do descaso
perdido dentro ampuleta
Tempo varão e voraz
Transformou você
Envelheceu-me
E, hoje diante das vísceras
encantadas da vida
Saboreio friamente esse
travor de vinho e vingança.
Logo que nasceste
Eu secretamente sabia.
Algo em mim morria.