Nascimento da morte

Logo que nasceste

abandonaste o escuro acolhedor

de meu ventre

E fostes se aventurar

na imensidão do mundo

no mistério dos sentidos

e sentimentos alheios

Fostes te antecipar

aos olhos ávidos e julgadores

Tão logo aportaste nesse cais

as amarras lhe foram frouxas

E teu casco a balouçar

tremiam por seus medos inconfessáveis

Logo que nasceste

diante ofegante espera

e o silêncio pétreo

edificado no meio do descaso

perdido dentro ampuleta

Tempo varão e voraz

Transformou você

Envelheceu-me

E, hoje diante das vísceras

encantadas da vida

Saboreio friamente esse

travor de vinho e vingança.

Logo que nasceste

Eu secretamente sabia.

Algo em mim morria.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 13/03/2012
Código do texto: T3552511
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