Acordei muito cedo, por volta das 04h00 da manhã, pelo ruído, percebi que meu parceiro de longas conversas, sobre livros de misterios e cultos e muitas viagens de ônibus, já estava acordado. Tomamos banho frio para melhor acordar, pusemos nossas roupas de viajores, bermudas de muitos bolsos e camisetas puídas, chapéu, boné e sapatos rústicos. Mochilas a costas, fomos nós para a estação rodoviária. Comer? Não! Não precisamos de comida, temos agua!
Precisamos de silencio e tínhamos este silencio a cidade ainda não havia acordado, estava em atribulado repouso, como quem tem pesadelos e sacoleja o corpo, percebem-se tais sacolejos ao se observar as feridas abertas, nas vias, seus buracos, feito cortes nunca curados... A cidade dormita e eu meu parceiro caminhamos, somos altivos no porte e aguerridos na indole, temos nas faces o estoicismo de nossas entranhas, somos guerreiros de uma estirpe que jaz nas brumas da antiguidade, nosso sentido de honra e lealdade já não mais existem a não ser em poucos, que sabemos nós dois existem, no entanto, se perderam de nós; nossa irmandade não mais se reúne, a não ser em raros dias quando nos cruzamos nas estradas e nos reconhecemos pelos olhos fixos no horizonte, como se todo o mundo fosse nosso campo de batalha e divisássemos a peleja a distancia.
Entramos no ônibus pela porta da frente como manda a lei e cumprimentamos aquele, que ainda não dormiu, se mantém acordado, afinal, há sempre quem queira viajar nas noites que se seguem aos muitos dias.
E guiadores de ônibus não tem face, não tem corpo, não tem vontade, não dormem, apenas enganam o sono que sentem, dirigem seus veículos carrancudos de muitos lugares, nenhum conforto, na mais extrema solidão...
São guerreiros de outro viés!
Assentamo-nos; em bancos altos, postos sobre as rodas do ônibus, nosso condutor sem rosto, deu partida e iniciou a viagem. A cidade desperta lentamente
O sol nosso companheiro de muitas eras, atinge nossos olhos com a força do amor e nós nos ressentimos de tal impacto, nossos corpos murmuram e se quedam a um enorme sofrimento; sofremos a dor do parto; nasce o dia e nós nascemos com ele, renovados e esperançosos; este é o melhor dia de nossas vidas, não há futuro para nós, hoje é o ultimo dia de nossas vidas.
Descemos do ônibus, fazendo um sinal para o homem sem rosto, que transporta almas aflitas, carentes filhos da ilusão, que se vão à cata do pão que lhes alimenta a vaidade e a incerteza, se vão para as linhas de produção, para os centros de formação de novas almas, que serão instruídas a terem desejos e a quererem com sofreguidão comprar a felicidade.
O guerreiro não tem felicidade ou ilusão, afinal não há futuro para o guerreiro, hoje é nosso ultimo dia de vida..
Subimos em novo ônibus, e nos assentamos no mesmo ponto de observação, deixando para trás a cidade sonolenta, cidade com fraturas expostas e feridas gangrenadas. O novo condutor sem face é célere em sua missão de transportar almas, a hora urge e todos tem pressa de chegar à servidão dos seus dias, na celeridade com que flui o veiculo, logo divisamos ao longe, nosso lugar, nosso ponto de encontro, nossa serra que deita os verdes e os azuis aos braços líquidos de um mar cinza e branco, ilhas, arvoredos, certezas de deuses ancestrais moram nestes labirintos de florestas e bizarrices.
Nossa serra é o refugio de guerreiros, que jazem mortos, seus corpos e sua memorias, foram extintos pelos mercadores do futuro, mas, nós somos o que somos, somos da mesma espécie, somos guerreiros aos moldes antigos, as memórias de nossos mestres são vivas em nós e somente nós sabemos de suas tumbas entre as aguas e as terras, entre sonhos e estórias.
Voltamos ao quilombo, voltamos ao lugar de nossa nascença, voltamos ao passado e o posicionamos no hoje!
O futuro? O que nos importa?
Imagem Serra do Mar vista da mesma serra nas encostas do morro da praia do pulso em Ubatuba. Nestas terras, bugres e africanos fugidios constituiram um lugar para viver e guerrear se fosse preciso. Hoje somente existe uma vaga memória do passado, mantidas vivas por anciãos e ancias. O governo reconhece ali a existencia do quilombo, (onde nasci) os moradores do lugar, se afirmam quilombolas.
Meu companheiro nesta viagem é meu irmão Jurandir.
Precisamos de silencio e tínhamos este silencio a cidade ainda não havia acordado, estava em atribulado repouso, como quem tem pesadelos e sacoleja o corpo, percebem-se tais sacolejos ao se observar as feridas abertas, nas vias, seus buracos, feito cortes nunca curados... A cidade dormita e eu meu parceiro caminhamos, somos altivos no porte e aguerridos na indole, temos nas faces o estoicismo de nossas entranhas, somos guerreiros de uma estirpe que jaz nas brumas da antiguidade, nosso sentido de honra e lealdade já não mais existem a não ser em poucos, que sabemos nós dois existem, no entanto, se perderam de nós; nossa irmandade não mais se reúne, a não ser em raros dias quando nos cruzamos nas estradas e nos reconhecemos pelos olhos fixos no horizonte, como se todo o mundo fosse nosso campo de batalha e divisássemos a peleja a distancia.
Entramos no ônibus pela porta da frente como manda a lei e cumprimentamos aquele, que ainda não dormiu, se mantém acordado, afinal, há sempre quem queira viajar nas noites que se seguem aos muitos dias.
E guiadores de ônibus não tem face, não tem corpo, não tem vontade, não dormem, apenas enganam o sono que sentem, dirigem seus veículos carrancudos de muitos lugares, nenhum conforto, na mais extrema solidão...
São guerreiros de outro viés!
Assentamo-nos; em bancos altos, postos sobre as rodas do ônibus, nosso condutor sem rosto, deu partida e iniciou a viagem. A cidade desperta lentamente
O sol nosso companheiro de muitas eras, atinge nossos olhos com a força do amor e nós nos ressentimos de tal impacto, nossos corpos murmuram e se quedam a um enorme sofrimento; sofremos a dor do parto; nasce o dia e nós nascemos com ele, renovados e esperançosos; este é o melhor dia de nossas vidas, não há futuro para nós, hoje é o ultimo dia de nossas vidas.
Descemos do ônibus, fazendo um sinal para o homem sem rosto, que transporta almas aflitas, carentes filhos da ilusão, que se vão à cata do pão que lhes alimenta a vaidade e a incerteza, se vão para as linhas de produção, para os centros de formação de novas almas, que serão instruídas a terem desejos e a quererem com sofreguidão comprar a felicidade.
O guerreiro não tem felicidade ou ilusão, afinal não há futuro para o guerreiro, hoje é nosso ultimo dia de vida..
Subimos em novo ônibus, e nos assentamos no mesmo ponto de observação, deixando para trás a cidade sonolenta, cidade com fraturas expostas e feridas gangrenadas. O novo condutor sem face é célere em sua missão de transportar almas, a hora urge e todos tem pressa de chegar à servidão dos seus dias, na celeridade com que flui o veiculo, logo divisamos ao longe, nosso lugar, nosso ponto de encontro, nossa serra que deita os verdes e os azuis aos braços líquidos de um mar cinza e branco, ilhas, arvoredos, certezas de deuses ancestrais moram nestes labirintos de florestas e bizarrices.
Nossa serra é o refugio de guerreiros, que jazem mortos, seus corpos e sua memorias, foram extintos pelos mercadores do futuro, mas, nós somos o que somos, somos da mesma espécie, somos guerreiros aos moldes antigos, as memórias de nossos mestres são vivas em nós e somente nós sabemos de suas tumbas entre as aguas e as terras, entre sonhos e estórias.
Voltamos ao quilombo, voltamos ao lugar de nossa nascença, voltamos ao passado e o posicionamos no hoje!
O futuro? O que nos importa?
Imagem Serra do Mar vista da mesma serra nas encostas do morro da praia do pulso em Ubatuba. Nestas terras, bugres e africanos fugidios constituiram um lugar para viver e guerrear se fosse preciso. Hoje somente existe uma vaga memória do passado, mantidas vivas por anciãos e ancias. O governo reconhece ali a existencia do quilombo, (onde nasci) os moradores do lugar, se afirmam quilombolas.
Meu companheiro nesta viagem é meu irmão Jurandir.