A dona do rio.
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Se eu pulo,
o rio me absorve o medo
então eu sou o rio
e o rio é o meu tombo no escuro ,
e eu sou a minha queda,
meus cabelos, minhas crias
no salto para o alto de mim mesma.
Se eu me lanço e caio,
sou sombra e trevas,
já não me pertenço,
Já não lhe pertenço.
Sou a entrega e o basta.
E se meu coração foi esmagado
pelas mãos estúpidas e assassinas de três
ou quatro parcas,
já não nos importa.
Eu o reconstruo parte a parte, fio a fio,
e até do inferno faço do tecido um jardim.
Pois a morte já não me pertence.
Porque eu pertenço ao trânsito do rio!
Ao amor escasso e humano,
rompendo o bloqueio das pedras!
Eu pertenço ao delicado sentido do bem!
Minha violência é água, não represa o amor
e o coração do mundo é um só. Tomba. Manifesta.
Não se pode esmagar uma mulher com uma derrota.
O rio corre – desalinha – é doce e perigoso,
de correntes e volumes,
lágrimas todas dos silêncios amargurados de mãe
- molhando de margens, as teimosas, as teimosas,
que sopram, espumam, alimentam
de esperança outros e tantos e tantas coragens
de escudo o livre.
E o que for da vida
segue serpente
no rio, no rio... e rio...
que já o vejo daqui.
Patrícia Porto