Apanhador de sonhos
Vivendo em um universo paralelo,
habitando o lado escuro da lua interior,
mantendo silenciosa a besta que vive em mim,
aquietando o grito que teima prender na garganta,
espreitando cada fresta de liberdade por entre as grades,
suportando a luz que fere meus olhos de penumbra,
louco sou, louco apanhador de sonhos em campos de pesadelos,
capturo essências tristes para lhes dar vidas felizes temporárias,
louco sou, absorvendo as trevas que depois me corroem o infinito...
.
Pulando crateras por entre estradas de caminhões em alta velocidade,
soprando ventos frios em datas festivas para apagar velas nas janelas,
mantendo trancadas as portas do inferno que carrego em mim,
resfriando as chamas que teimam queimar meu espírito indócil,
andando sorrateiro por lugares comuns passando despercebido,
fingindo ser um humano como qualquer outro nos afazeres,
louco sou, louco apanhador de sonhos em depressões da alma,
capturo fragilidades descrentes para lhes dar forças internas efêmeras,
louco sou, absorvendo medos que depois fazem temer meu eu...
.
Saltando arames farpados em campos de guerra minados,
tocando melodias envolventes em um violino desafinado pelo tempo,
sentindo meu duplo revolver-se em minha pele de camaleão,
aprisionado em aparências irreversíveis de materialidades tangíveis,
maquiando as cicatrizes que cruzam meu rosto da esquerda à direita,
percorrendo os telhados da cidade em noites chuvosas de inverno,
buscando alguma salvação para meus pecados eternizados,
louco sou, louco apanhador de sonhos na correria da vida,
capturo momentos desperdiçados para lhes abrir janelas de girassóis perecíveis,
louco sou, absorvendo o turbilhão para depois me ver tragado pelo redemoinho de insensatez...
.
Louco sou, sou o apanhador de sonhos quando só há desespero,
levo a luz de uma vela em meio à tempestade de vento,
louco sou, sou o apanhador de sonhos quando a terra treme de terror,
levo a segurança de estar caminhando sobre gelo fino em pleno verão,
louco sou, sou o apanhador de sonhos quando nada mais existe,
levo a esperança em nós de um barbante para tecer um manto protetor no tear da existência finita,
louco sou, sou o apanhador de sonhos...