NEM TANTO CINZAS, NEM TANTO PÓ

Bem sei que é ali que escrevo,

No covil da víbora, meu diário.

Temores que nem minha alma confesso,

Mesmo que feche meus olhos sob o sudário.

Sinto-me tão desconfortável quanto

um anjo em uma camisa de força!

Tão cheio de adeus, tão cheio de espanto,

chegue perto de mim e ouça:

Já não bastar nascer de espinhoso ventre,

Ainda ter que me alimentar de tua lama

Um fim pra esse berço de dor presente

Qual ser a agonizante que não conclama?

Se cansei por esperar por bons dias

É porque enterrei a esperança bem longe.

Fiz de mim um mendigo das agonias

e no ceticismo, tenho a fé de um monge.

Nem tanto cinzas; Nem tanto pó.

De um querer a mim tão estranho

Vejo-me, na morte, andando só,

pois não sou cordeiro de rebanho.

Não sou cadáver que esperneia

A porta de tua funerária!

Mas sou um fantasma que vagueia

Em companhia da deusa mortuária.

Cristiano Leandro
Enviado por Cristiano Leandro em 15/02/2012
Reeditado em 13/07/2013
Código do texto: T3501672
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