UMA CENA DE NOSFERATO
Não quero carona em teu caixão,
Nem chegar ao teu céu de veneno,
Prefiro viciar-me, retorcido ao chão,
No vômito de quem está morrendo.
Do que me vale essa pele, os ossos?
As carnes a se decompor.
São efêmeros esses corpos nossos,
Não vivem para sempre, como for.
Qual o consolo? Da luz um unico lampejo?
E o que pedem? A alma que sobra?
Daqui nada se leva, pelo que vejo,
Pra quê o céu e o inferno, essa obra?
Mas...
As vezes penso tristimente
De quando terei que fazer parte
Da dieta da cova e, lentamente
Dividir com os vermes minha carne.
Até o conde Dracúla amaria,
Se ele removesse os males que a velhice traz.
E da Meduza, a boca, até beijaria,
se a morte sagaz, petrifica-la fosse capaz.
E como uma flecha certeira disparada,
Penso ser esse o destino da vida.
Daquele que preferir viver na madrugada,
Ao invés de ser porta voz dessa partida!