Olhar colorido...
Não. Eu não sou mais a mesma.
Meus cabelos quase ruivos... agora grisalhos.
Mascaro com preto... vermelho... brinco com as cores
Para fora e para dentro da minha cabeça.
Mas não gosto das máscaras... só as de cabelos.
Também não possuem as ondulações d'antes
Livrei-me delas. Mas vou pensar mais sobre isto.
Vou pensar sobre as cores também.
Gosto muito do azul... e sou livre.
Outrora... cachos tão confusos quanto a minha junventude.
Toda a juventude... onde pensamos que o mundo é nosso.
Passei a pintar as unhas dos pés... de vermelho.
Nem sempre. Mas quando estou feliz.
Antes sem cores... ares de limpo.
Mas aprendi que a limpeza está deveras longe da cor.
Nos pés... nos cabelos... ondulados ou vermelhos.
Ou ruivos... ou pretos. Na alma.
Mas bom mesmo... é mudar para dentro.
Ter quarenta e cinco e sentir-se com cinco...
De vez em quando... se quero sorrir com verdade.
Quando olho para os meus filhos.
Na forma de olhar para os bichos... para a natureza.
Na forma de reconhecer os meus limites e a minha pequenez.
De respeitar os limites... e a pequenez alheia.
Reconhecer o que é humanamente grandioso... e tentar aprender.
É muito pesado tentar ser "maravilhosa".
Agradar a todos... menos a mim mesma.
Não gosto ainda de "entrelinhas".
De certo... a esta altura... nunca gostarei.
Mas posso, um dia, torna-me cínica.
O mundo está um caos... e eu estou no mundo.
Gosto de tudo o que é direto. Nas linhas.
Inimigos declarados... embora sem tempo para eles.
Amigos também declarados... mas com clareza.
Nada de "de vez em quando"... ou de "astral".
Que bom... não sou a mesma.
Amo mais... perdoo mais. Relevo mais. Oro mais.
Fiquei mais leve... e posso ter a cor que eu quiser.
Eu tinha uma professora que dizia-nos:
Mudem sempre! ... Experienciem! ...
Só os loucos têm idéias fixas!
Nem sempre concordo...
Ainda fixo as idéias sobre algumas coisas. E pessoas.
Não sei se foram estas coisas e pessoas que estagnaram... ou eu.
Mas não gosto de julgar... já gostei um dia.
E fui percebendo o quão frágil é o meu "telhado"...
Tantas atitudes equivocadas... quando olho de soslaio.
Que bom... eu não sou mais a mesma.
Mas não sou nenhuma "santa".
Eu apenas vivo. Cada dia, um dia.
Não sou feliz todos os dias. Isto é para as "santas".
Mas sinto a paz. E quando não sinto-a... escrevo.
Escrevo também quando sinto-a.
E nunca esqueço... de olhar para trás.
De soslaio.
Karla Mello
Fevereiro/2012