A VALSA DAS FLORES
Ela era tão delicada
Como uma luva de pelica
Uma florzinha de margarida
Pele alva e apessegada
Amava certo cravo
Que lhe devolvia
Os mesmo polens
Trocavam secretas informações
Com as operárias abelhas
Que levavam e traziam fortes emoções
As mais doces mensagens de amor
Sabia ela em seu jargão
Que a grande mestra
Da vida era a sua mãe natureza
E que a verdade que possuía
Era continuar sonhando
Como os pássaros que voam
A nada se apegam
Não se tornam cativos do solo
Pelo contrário tem outra alcunha
Tem o céu por testemunha
Escutava as vozes das coisas
Sabia que seu amor não era falsete
E que sempre chegara à primavera
Cada vez mais garboso o cravo em seu ramalhete
Mandara bilhete e que queria com ela se casar
Mais nem tudo era sonho
Sabia que tinha que ter filhos
E casar com os da sua espécie
E que sua guirlanda ancestral
Não permitia outro tipo de ritual
Entre as flores, ela chorosa se confessara
Com a rainha rosa que dissera a ela
Que o amor dela era mais forte
E que nada poderia lhe tirar
Este amor que sentira pelo cravo
Ao contrário dela que colecionava espinhos
Pra nunca mais se ferir...
Ficou mais alegre
Voltou a si e mandou um recado
Ao cravo dizendo que não poderia
Se permitir casar com ele em vida
Mas que seu amor por ele estava
Guardado em sua raiz...
Mas que em sonhos
Podiam se amar eternamente
Pétala por pétala
Até voar como os pássaros
Que voltam ao ninho
Pra se amarem para sempre
até nascer o caldo da evolução
Seus ovinhos
E o cravo triste brigou com a rosa
Pra nunca mais com ela falar...
Em sonho então nascia o bem-me-quer
E o mal-me-quer fruto da união entre o cravo
E a margarida....
Por isso os seres que se amam
Consultam sempre estas pétalas amareladas
Aladas e segredadas de um amor único
Mas que nem sempre podem se juntar
Na dança da primavera na valsa das flores
Com lágrimas orvalhadas...