ACORDANDO A POESIA

Havia deixado que ela dormisse em berço explêndido

Acalentada sob os mantras dos monges do Himalaia

E ela dormia singela e bela entre duendes, fadas, elfos e quimeras

Poesia encantada nas flexas do cupido,

Bailando os céus nas asas do unicónio...

Menina bela e adormecida, dolentemente entregue a seus sonhos

Em viagens astrais, entre estrelas e cometas

Luzes de neon, vison... visão do que era perfeito e bom...

Poesia ingênua, doce e serena,

Dormia ainda pequena no meio da fantasia

Mas tive que acordar a poesia

E abrindo os seus olhos ainda envolvidos de magia

Ela viu que a realidade pode ser cruel

A poesia perdeu o véu

Perdeu sua alegria

Despida de sua inocência

Vagou entre a dor e a demência

Entre o furor do esquecimento

E a excrudante ignomínia

Reconheceu as mazelas do mundo

E quis ser poesia social

Vestiu-se de mulher da vida

Comeu as migalhas da sociedade

Andarilha e sem teto e sem chão

Descobriu que o homem pode ser fera do homem

Que a inveja é uma voraz pantera

A solidão, uma serpente

A vida é dura e visceral

Ela esqueceu os contos de fadas

Andou de mãos dadas com o pivete,

Chorou as lágrimas da viúva

O desamparo do órfão

E a tristeza da mal amada

E muito desencantada,

A poesia quis ser concreta

Sangra

Se rasga

Se e s p a l h a

Entre a BOCA DO LIXO

e o LIXO DO LUXO...

Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa. 22/01/2012

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 23/01/2012
Reeditado em 23/01/2012
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