Láudano

Chega a noite, sorrateira

Envolvendo-me em implacável posse

Sua entrada é imperceptível

Seu encanto, sibilo de sagaz serpente

Enquanto me leva,

Preso a seus colossais tentáculos

Eu deslizo entre labirintos de perdição

Através dos sete mares

Costas de mundos distantes, descohecidos

Um veículo de inércia e ociosidade

Apenas para descobrir que o infinito

Está contido em minha mente

Vendo-me então evaporar em etéria dualidade

Na fumaça de minhas ilusões

Agora tento domar o medo atrás de meus olhos

Tentando ver o que me aguarda do outro lado da porta

Tentando ignorar o cansaço em meus ossos

Seguindo ao lado do anjo negro da morte

Ele arrasta agonia por entre as sombras

Extasiado no prazer da observação dos escombros

De seu fatídico prêmio

- Sete são os seus anéis

- Sete são os seus círculos do poder

- Sete são os infernos espelhados no fogo de sua espada

Sua face, desprovida de misericórdia

Exprimindo seu profundo desprezo

Pela essência da natureza humana

Num grito de desespero, eu clamo

E, por fim curvando-se, ele ouve minha lamentação,

Meu choro e minha indignação

Ele sabe que isso não é para meus olhos - olhos do homem!

Ele diz:

"Não levarei embora vosso orgulho,

Pois é elemento fundamental de vossa própria queda

Até que vossa máscara derreta e caia,

Ao rolar de vossas lágrimas

Até que vos façais agradar aos olhos do Criador

Que tanto vos descarta e vos atormenta

Porquanto este vive apenas em vossas mentes

Na amargura da culpa por vossos erros,

A encobrir-vos a alma

Sob negra túnica de pecados e pesadelos

Dar-vos-ei porém o despertar daquilo

Que rejeitais em falsa sanidade

O que alimenta o mais oculto e solícito prazer

Bem no fundo, num canto escuro de vosso inconsciente"

Isaque
Enviado por Isaque em 10/01/2007
Reeditado em 28/06/2013
Código do texto: T342113
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