Láudano
Chega a noite, sorrateira
Envolvendo-me em implacável posse
Sua entrada é imperceptível
Seu encanto, sibilo de sagaz serpente
Enquanto me leva,
Preso a seus colossais tentáculos
Eu deslizo entre labirintos de perdição
Através dos sete mares
Costas de mundos distantes, descohecidos
Um veículo de inércia e ociosidade
Apenas para descobrir que o infinito
Está contido em minha mente
Vendo-me então evaporar em etéria dualidade
Na fumaça de minhas ilusões
Agora tento domar o medo atrás de meus olhos
Tentando ver o que me aguarda do outro lado da porta
Tentando ignorar o cansaço em meus ossos
Seguindo ao lado do anjo negro da morte
Ele arrasta agonia por entre as sombras
Extasiado no prazer da observação dos escombros
De seu fatídico prêmio
- Sete são os seus anéis
- Sete são os seus círculos do poder
- Sete são os infernos espelhados no fogo de sua espada
Sua face, desprovida de misericórdia
Exprimindo seu profundo desprezo
Pela essência da natureza humana
Num grito de desespero, eu clamo
E, por fim curvando-se, ele ouve minha lamentação,
Meu choro e minha indignação
Ele sabe que isso não é para meus olhos - olhos do homem!
Ele diz:
"Não levarei embora vosso orgulho,
Pois é elemento fundamental de vossa própria queda
Até que vossa máscara derreta e caia,
Ao rolar de vossas lágrimas
Até que vos façais agradar aos olhos do Criador
Que tanto vos descarta e vos atormenta
Porquanto este vive apenas em vossas mentes
Na amargura da culpa por vossos erros,
A encobrir-vos a alma
Sob negra túnica de pecados e pesadelos
Dar-vos-ei porém o despertar daquilo
Que rejeitais em falsa sanidade
O que alimenta o mais oculto e solícito prazer
Bem no fundo, num canto escuro de vosso inconsciente"