MEMÓRIA SELETIVA
Quero renascer de novo rasgar o véu da placenta
Sair deste órfico ovo, deixar a estrada de teu ventre
Como a semente bastarda
Que ganhou a venta como paisagem...
Como um querubim de fogo
Moí-me nos versos dos rios leiteiros
Lácteas rimas, naufragado no leito
Memórias seletivas tato de efeito
Terreno perigoso de adentrar
Túmidos e enrijecidos de cheirosa espuma
Em praias espraiadas de ondas saltitantes
Embalado pela sereia alvejante
Em busca de uma centelha divina
Que me cantava no dorso de seu peito...
Quero renascer de novo na madrugada de teu ser
E que ela me entregue na bandeja fria do mundo
Com direito a um novo amanhecer.
Na espádua nua de um céu celestial
Adormecer com vizinhas estrelas de novo
Mais desta vez acordar devorando o ovo
De tuas inúmeras fases nuas
Devorando o queijo e os buracos de tua louca lua
Espera áspera contundente estréia
Neste palco iluminado de quimeras
Monstros concretos ilusórios tetos
Mamas de borracha
Fetos infectados
Lastros e rastros antros quiméricos
Tantos caminhantes
Peregrinos distantes a procura de um Deus encarnado
A espera os alcança como onda os leva e os deixa pra trás
A balança pende para os mais vis
E vamos sempre preenchendo esta terra
Ancorando em torvelinhos aquáticos
Por entre armas e fuzis procurando o continente perdido da paz...