No meu último suspiro
Chegada a hora da partida,
Na ânsia de minha morte,
Deixando a minha vida querida,
Para ir ao reino do mais forte.
Antes do último suspiro,
Dado entre lembranças e gemidos,
O cálido ar que respiro
Acalentar-me-á o corpo abatido.
E, nesta hora de agonia,
Certas recordações terei em mente.
Lágrimas no rosto terei neste dia,
Mas espero partir contente.
Quero olhar para o passado
E ver uma brilhante história.
Assim, partirei despreocupado,
Dando fim e começo a trajetória.
E, diferente de Álvarez de Azevedo,
Derramai mares de lágrimas por mim.
Mares onde eu possa descansar ledo,
Mares onde eu nade, águas sem fim...
Meu último suspiro dado,
Mas o coração não para de bater!
Momentos sendo relembrados.
No rosto, lágrimas a escorrer!
No brando corpo, cansaço acumulado.
Nas veias, o sangue já para de correr!
As lembranças desaparecem...
De viver, as pessoas se esquecem...
Deitado sobre as nuvens molhadas,
Descansarei iluminado pelo sol.
Divinas graças eternizadas...
Luz que vem de certo farol,
Traz-me a minha mãe amada,
Lentamente, qual um caracol...
Logo após, tenho meu pai elevado,
Nascido já com seu nobre legado...
Oh! Último suspiro no peito!
O coração em sua última batida.
Vital nó da vida desfeito!
Chega a hora da partida...
Não que eu morrendo esteja,
Ou querendo a morte ter.
Só quero que o ser humano veja
Que a vida é bela...é duro morrer!
E, fantasiando o suspiro derradeiro,
Elevo o gigantesco valor da vida.
A vida tão preciosa a um guerreiro,
Que está em uma guerra já vencida.
Porém ele não pode ver a vitória,
Pois morreu! Morreu com glória!
Portanto, vivei cada dia,
Como o último, ou o primeiro!
Tende sonhos, escolhei a alegria!
Lembrai-vos do glorioso guerreiro,
Que vencido pela penúria,
Viu a vida partir, tomado de fúria.
E, no último suspiro,
Fecharei os olhos, descansarei em paz.
O pensamento que agora transpiro,
Afigurar-se-á em uma recordação fugaz.
E, tomado de alívio subirei,
Deixando glorioso passado para trás,
Avistando o paraíso com qual sempre sonhei,
Vendo como a vida se desfaz...
E, aquecido pela luz solar;
Abraçado pelo arfar do vento;
Percebo a vida, vejo-a voar,
Perpetuando-se no incansável tempo.
Um sorriso transparece-se no ar,
Um passado se vai lento.
Lembranças, qual estrelas infindas...
A vida, a dádiva mais linda...
*Esquema rimático de "Os Lusíadas" nas estrofes 6ª, 7ª e 13ª
21/12/11