levitação...

Dor... sábia dor...

Já me pertences... e eu a ti.

Sabiá meu canta à mim... longe daqui.

Até já me transponho a ti... dor... estou acima... sorrindo...

Já nem te sinto... nem tenho medo de ti.

Quando tuas asas sombrias pairam... param...

No ar dos meus pensamentos... sê bem vinda.

Quando laceras... já imperceptível... coitada...

De mim... de ti... pobre dor.

Quando ultrapassamos as tuas fronteiras…

Ficamos livres... libertos de ti... do medo.

Podemos então sentir tudo... ou nada... e tanto faz.

Ficamos apenas a contemplar-te...

Tuas vestes sombrias que ensinam... e desnorteiam igual.

És antagonicamente linda... linda...

Trazes melhoras a mim...depois que atravessa-me...

Serve-me a paz... num banquete...

Te ver passar... sem mais alarde... não mais.

Numa sensação de quase levitação...

Levitação sobre mim mesma... sobre os meus fatos.

Sobra feitos... mal feitos... sobre efeito da ausência do medo.

Não sinto mais… não te sinto.

Sei que me acreditas... e me olhas assim...

Não chores... tuas lágrimas embaçam os meus olhos...e sentidos.

Assim… estragas todo o meu papel.

Estás perdida? … Encontra-te em mim...

Sei que andaste a conversar com o “Pessoa”…

Sei ainda que bem explicou-lhe em detalhes de apropriação…

Que “O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente…

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente...”

É mesmo assim... às vezes...

Feliz-mente o poeta sente... só não a dor.

Porque a dor... tu… resides permanentemente.

E já não se sente... num único espaço... tu e a alma... a minha.

Sou tua... bem vinda.

Karla Mello

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 16/12/2011
Código do texto: T3391460
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